terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A droga do talento

Lendo um artigo do Henrique Bastos sobre programadores lentos, por sinal muito bom, fiquei tentado a divagar sobre o assunto. Como de costume, fiquei horas e copos pensando e formulando, revendo minha pobre experiência de vida e acabei por cair no tema, de cara.
O Henrique tem razão sobre a posição da atitude na qualificação de um programador, quiçá na qualificação de uma pessoa, como ser humano. Mas minhas ponderações seguiram um outro rumo, embora adjacente ao tema: até quando é possível exercer a atitude?
Tá bom, eu sei que o tema é “piegas”, “batido”, mas fazer o quê? Este tema incomoda-me profundamente. Sempre que posso, gasto lentamente meu tempo a seu favor. A que serve a atitude se ela não é vista como tal?
Este tipo de post é daqueles que não pretendem mudar o mundo ou o seu modo de pensar. Vai mais como um desabafo, um “chororô” causado pela droga do talento. Sim, talento é uma droga. Não simplesmente pelo fato de ser viciante. Todo mundo tem um talento e é viciado nele. Mas também trazer tantos transtornos.
A atitude não é uma virtude, mas uma obrigação. Porém esta relacionada ao caráter, e este é um ponto que não vale o debate: ou se tem, ou não se tem; oito ou oitenta.
Porque relacionei atitude e talento? Pelo simples fato de que considero a atitude como sendo a materialização do talento. Quando alguém trabalha minuciosamente um projeto, buscando não a perfeição, mas simples usabilidade daquilo que esta sendo produzido, é tal qual o oleiro a moldar sua obra de arte. Sim, porque programar é uma arte, um talento. E para tal, exige mais do que dedicação, exige paixão. Ou seja, a paixão é uma atitude.
Mas o talento continua sendo uma droga. Quantas pessoas você conhece que são chamadas de talentosas? Eu conheço poucas, embora chame a muitos por este “codinome”. Agora, vamos mudar a pergunta: quantas pessoas você conhece que são chamadas de “nerdes”, de “cientistas malucos”, de “inventadores de moda”?
Se o número cresceu, fique satisfeito: você conhece muita gente talentosa e, claro, também vítimas de um preconceito, como todos, infundado, de nossa sociedade moderna. Este mesmo preconceito deixa, por vezes, um certo medo de se ter talento. Não raro o mercado dispensa profissionais altamente talentosos na mesma proporção que dispensa os ruins. E a explicação é bem simples: ambos estão nas pontas, e certas empresas preferem a mediocridade que obedece, que não questiona.
Talvez, digo talvez, tudo esteja relacionado ao conceito de produtividade. O que é a produtividade? Se um programador esta lendo, ele está produzindo? E se ele desenvolve um sistema, e todo dia o monitora afim de que o mesmo siga sem problemas, ele está produzindo? E se o programador simplesmente pensa, estará ele produzindo?
O que é produção, afinal? É passar o dia inteiro digitando códigos? Ora, o programador foi contratado para produzir e isto denota que ele já sabe tudo o que precisa saber. Ou não?
Mas a culpa é do talento, dessa droga de talento. Se não fosse o talento, não haveria possibilidade de comparação. Não haveria a ponta, apenas mediocridade e coisas menos. Seríamos menos tristes sem ele, mas jamais mais felizes. Não sem a paixão.
Acho que chega de lágrimas. Essa droga do talento sempre me deixa assim, meio “jururu”. Mas isto não importa, pois tenho comigo o orgulho de ser, desde criança, o cientista maluco do colégio.




2 comentários:

  1. Disse tudo no texto.. pena que a sociedade discrimina os talentos mesmo, pois deles saem os melhores produtos, digo como programador, posso não ser talentoso. mas AMO o que faço, e sempre tento melhorar aquilo que estou desenvolvendo.

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  2. Complementando - Nunca discrimine um Nerd, pois um dia ele será seu chefe.

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