segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A cláusula do menor esforço





Hoje, conversando com o #dynaum, comentei sobre minha falta de “inspiração” para compor um novo post. É engraçado, pois particularmente não creio muito neste negócio de inspiração neste modelo quase divino, muito propagado por aí. No meio de um assunto sem fim (trabalho), acabamos por falar sobre algo um tanto nada haver: a capacidade de julgamento do ser humano.
Falávamos sobre a triste realidade de, algumas pessoas, usarem de crianças para esmolar. Comentei que para a criança, aquilo pode não ser bom ou ruim, uma vez que ela não conhece outras realidades para compor uma comparação. Bom, como nenhum de nós é um sociólogo, ou antropólogo, o assunto morreu por aí mesmo.
Para minha satisfação, julguei ter encontrado inspiração para este post: como julgamos uma LP, um OS ou mesmo uma metodologia de trabalho sem conhecer outras a que comparar? Afinal, precisamos mesmo comparar para aceitar?
Costumamos acreditar que algo é bom, é melhor pelo fato de apenas ser mais simples, ou parecer mais simples. E estaríamos errados? Lembro-me dos meus primeiros passos, digo, pedaladas com a bicicleta de um amigo meu. Era uma Caloi 10 e a gente se enfiava no meio do quadro e tentava pedalar. Prestava atenção no pedal, esquecia o caminho, dava com a cara no chão.
Após alguns tombos, consegui andar. E após muitos tombos, consegui virar uma esquina. Eu havia aprendido a andar de bicicleta. Mas não dava para chegar onde eu queria, se que quisesse ir a uma cidade vizinha. No entanto, consegui isto, certa vez, com a moto de meu irmão. Não caí, mas foi bem difícil guardar como se passava as marchas, apertar a embreagem ao invés do freio, frear com o pé, regras de trânsito, tec. Pode parecer ridículo, mas o instante do aprendizado, seja ele no que for, não nada ridículo ou fácil.
A gente praticamente não se assume aprendiz, mas adora contar que é tudo muito fácil. Claro, após nos garantirmos. O caso é que andar de moto é mais complexo, porém acho melhor que andar de bicicleta. Assim, nem tudo que aparenta maior simplicidade eu julgo como o melhor. Porém, acho a moto melhor pelo fato de que ela torna o meu esforço motor mais simples. Não vou morrer de cansaço por subir um morro de moto, a não ser que eu precise subir empurrando-a.
Bom, se é assim, julgaria que algo é melhor por minimizar meus esforços. E o que eu ganharia com isto? Tempo? E o que eu faria com o tempo? Procuraria algo melhor e mais simples para fazer, do tipo, tirar um cochilo?
Ainda assim, o julgamento é subjetivo, particular a cada ser. Assim sendo, o que faz com que um grande número de programadores eleja esta ou aquela Linguagem, sendo que a mesma é a única em seus currículos? Subjetividade coletiva? Vou deixar isto para o C. G. Young.
Não é uma crítica, sério. O caso é que se torna mais e mais constante ouvir de algumas empresas: escolhemos a linguagem X porque há mais programadores no mercado. E pelo fato destes programadores serem mais baratos, não estamos abertos a novas tecnologias. Exagero meu? Imagino que cada um tenha sua história para contar. Espero não estar criando um silogismos, mas vejamos:


  • Se a linguagem X tem mais programadores, é a mais simples.
  • Se é mais simples é porque há mais códigos na net (mais gente posta)
  • Se há mais códigos tem-se menos esforço para criar, posso simplesmente juntar os códigos.
  • Se junto os códigos...


Brincadeiras a parte, isto não está relacionado a LP, mas ao programador. Infelizmente, há vários fatores que fazem com que as pessoas migrem para o ramo da programação. E como é um espaço bastante concorrido, é preciso estar pronto de imediato, o que faz a relação do menor esforço uma causa viável.
Mas até quando tal fato se perdura? Eu sei, eu sei, é mais um caso subjetivo. Porém, os danos são mensuráveis. Você se consultaria com um médico que não se recicla há mais de quatro anos? Que entende somente de polegares direitos? Se você machucou o polegar esquerdo, porque confia o seus software a quem não se recicla? Não posso, nem deveria, julgar os motivos de uma não reciclagem. No entanto, quem é capaz de desenvolver sem acesso a internete? Eu mesmo fiquei quatro anos estacionado em vb pelo simples fato de que me proporcionava dinheiro. Não mais nem menso que o suficiente para o meu momento. Ganhei quatro anos um bom salário ou perdi quatro anos de novas técnicas e tecnologias.
Como garantir que não necessitaremos desta ou daquela linguagem? Devemos lembrar que necessidades surgir surgirão que ainda nem são pensadas. Alguém senti necessidade de um iPhone em 1985?
Como desenvolvedores, estamos na contra-mão do menor esforço: somos nós quem o produzimos. Proporcionamos menor esforço para outras pessoas, os usuários, não para nós. Criar algo simples requer trabalho. Dedicação. Esforço maior.
O fato eu apenas conhecer vb impediu-me de comparar meus ganhos financeiros a outros desenvolvedores, de outras linguagens, de outras plataformas. Cheguei ao ponto de ridicularizar a web, pois sempre cria na evolução das aplicações desktop. Como resultado, entrei no mercado tarde, desatualizado e, o pior, por necessidade e não por opção.
Não digo que todos devem ser poliglotas em programação, mas é preciso conhecer para comparar. Não existe melhor ou pior em programação. Eu programo em linguagem X porque gosto, assim como gosto de vermelho. (Palavras do Henrique Bastos). E é assim mesmo que deve ser. Porém gosto de vermelho porque acho o azul chato, porque a linguagem y tem menos escalabilidade. Ou seja, sei do que gosto, porque sei comparar. Para finalizar, penso que o conhecimento é intransbordável... (Se é que esta palavra existe)


Um comentário:

  1. bom post!! legal.

    desde de que comecei a estudar e trabalhar com desenvolvimento de sw, vejo "clubismo" em linguagens e ferramentas. hoje os que conheço e estão na pior, são os mesmos que defendiam produto A e criticava B. ficava no meio daquilo tudo e até tinha absorvido tal "clubismo". esses quando tentaram se aventurar em outra ferramenta ficavam apontando defeitos.

    o ser humano é muito complicado ...

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